Kardecismo e Adventismo: Pontos de Convergência e Divergência sob uma Perspectiva Teológica Comparada






Kardecis
mo e Adventismo: Pontos de Convergência e Divergência sob uma Perspectiva Teológica Comparada


Por:
Jorge Schemes

Resumo

Este estudo tem como objetivo analisar as convergências e divergências entre o Espiritismo Kardecista e a Igreja Adventista do Sétimo Dia, com foco em seus aspectos históricos e doutrinários. A pesquisa se fundamenta em teólogos e estudiosos renomados, tais como Allan Kardec, Ellen G. White, Leonardo Boff, José Reis Chaves, Severino Celestino da Silva e outros especialistas em teologia comparada. Além disso, explora-se a fundamentação bíblica e espírita em cada um dos temas abordados. Na conclusão, será aplicada a ética da alteridade de Emmanuel Lévinas e os ensinamentos de Jesus Cristo como base para um diálogo respeitoso entre ambas as tradições religiosas.


Introdução

A religião e a espiritualidade são fenômenos que moldam culturas, sociedades e a própria identidade humana. O Espiritismo Kardecista e a Igreja Adventista do Sétimo Dia representam duas correntes distintas que, embora compartilhem alguns pontos de convergência, apresentam divergências marcantes em aspectos fundamentais da fé e da prática religiosa. Como destaca Leonardo Boff (2010), “o diálogo inter-religioso deve partir do respeito à diversidade e da disposição para compreender o outro em sua experiência de fé”. Este artigo busca explorar esses elementos com rigor acadêmico e respeito inter-religioso, embasando cada ponto com referências bíblicas e espíritas.


Aspectos Históricos


Origem do Espiritismo Kardecista

O Espiritismo, codificado por Allan Kardec no século XIX, tem como base filosófica e científica a comunicação com os espíritos e a reencarnação. Kardec estruturou a doutrina a partir de diálogos mediúnicos e postulados filosóficos que buscavam conciliar ciência, filosofia e moral cristã. Em sua obra O Livro dos Espíritos, Kardec (1857) afirma: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”. O Espiritismo se apresenta como uma continuação do Cristianismo primitivo, buscando resgatar a ideia da reencarnação presente nas primeiras comunidades cristãs (Mateus 11:14).


Origem da Igreja Adventista do Sétimo Dia

A Igreja Adventista surgiu no contexto do movimento milerita nos Estados Unidos, no século XIX, liderado por William Miller. Após o chamado “Grande Desapontamento” de 1844, a denominação foi estruturada sob a influência de Ellen G. White, cuja obra profética consolidou as doutrinas adventistas, incluindo a observância do sábado e uma visão escatológica específica. White (1898), em O Desejado de Todas as Nações, destaca: “A maior necessidade do mundo é de homens que não se comprem nem se vendam, que sejam fiéis ao dever como a bússola o é ao polo”. O adventismo baseia-se fortemente na interpretação literal da Bíblia, com exceção para as partes proféticas que envolvem simbologia profética, especialmente no livro de Daniel e Apocalipse.


Convergências Doutrinárias


Apesar de suas diferenças estruturais, ambas as tradições compartilham pontos em comum:

  1. Moral Cristã – Tanto o Espiritismo Kardecista quanto os Adventistas do Sétimo Dia fundamentam sua ética nos ensinamentos de Jesus Cristo, enfatizando a caridade, a solidariedade e a justiça. Como argumenta Boff (2012), “toda prática religiosa autêntica deve se expressar na transformação do mundo e na defesa dos mais vulneráveis”. Em Lucas 10:27, encontramos o princípio do amor ao próximo, que está na base da prática de ambas as tradições.

  2. Esperança em uma Vida Após a Morte – Ambas as tradições acreditam na continuidade da existência do ser humano além da morte, embora com concepções diferentes. Segundo Severino Celestino da Silva (2001), “a crença na imortalidade da alma atravessa séculos e diferentes tradições religiosas, apontando para uma realidade que transcende a existência material”. O Espiritismo vê essa continuidade na reencarnação, enquanto os adventistas acreditam na ressurreição dos mortos (1 Tessalonicenses 4:16-17).

  3. Interesse pelo Bem-Estar Humano – Tanto os adventistas quanto os espíritas promovem iniciativas de assistência social, educação e saúde como parte de sua missão religiosa, em consonância com a passagem de Tiago 2:14-17, que enfatiza a necessidade de ações concretas em favor do próximo.


Divergências Doutrinárias


As divergências entre as duas tradições são significativas e incluem:

  1. Natureza da Alma e do Espírito – O Espiritismo defende a imortalidade do espírito e a reencarnação como mecanismo de evolução, enquanto os adventistas acreditam na “mortalidade condicional da alma”, com a ressurreição dos justos no fim dos tempos. José Reis Chaves (2010) argumenta que “a doutrina da reencarnação está presente nos primórdios do cristianismo e foi gradualmente excluída dos dogmas oficiais”. No entanto, os adventistas citam Eclesiastes 9:5 para sustentar sua visão: “Os mortos nada sabem”.

  2. Comunicação com os Mortos – No Espiritismo, a comunicação mediúnica é considerada um meio legítimo de aprendizado espiritual (1 João 4:1: “Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus”). Já os adventistas rejeitam essa prática, interpretando-a como influência demoníaca. Para White (1884), “Satanás pode se apresentar como anjo de luz, enganando aqueles que buscam comunhão com os mortos” (2 Coríntios 11:14).

  3. Autoridade da Revelação – Os adventistas consideram a Bíblia como única regra de fé e prática, interpretando-a sob a ótica das revelações de Ellen G. White. O Espiritismo, por sua vez, vê os textos sagrados sob uma perspectiva progressiva, considerando novas revelações espirituais. Segundo Kardec (1868), “a fé raciocinada é aquela que pode enfrentar a razão em todas as épocas da humanidade”.

  4. Concepção de Salvação – Para os adventistas, a salvação ocorre mediante a fé em Jesus Cristo e a obediência aos mandamentos divinos (João 3:16). No Espiritismo, a evolução espiritual se dá pelo esforço pessoal ao longo de múltiplas encarnações. Como afirma Chaves (2015), "o céu e o inferno não são lugares fixos, mas estados espirituais que refletem o progresso da alma".


Ética da Alteridade e o Diálogo Inter-Religioso

A partir da ética da alteridade de Emmanuel Lévinas, que propõe o reconhecimento do outro como um ser digno de respeito e consideração, podemos estabelecer um diálogo respeitoso entre essas tradições religiosas. Segundo Lévinas (1974), “a verdadeira ética nasce no reconhecimento da alteridade, no olhar que reconhece no outro um ser único e insubstituível”.

Jesus Cristo ensinou o amor ao próximo sem distinções, convidando-nos a praticar a compaixão e a compreensão. Assim, em vez de enfatizar disputas teológicas, o foco deve estar no que essas tradições podem aprender umas com as outras para promover um mundo mais ético e fraterno. Como destaca Boff (2013), “a verdadeira espiritualidade é aquela que se traduz em compromisso com a justiça e com a vida em plenitude”.


Saiba Mais:

Kardecismo: Federação Espírita Brasileira

Adventismo: Divisão Sul Americana da IASD


Bibliografia

BOFF, Leonardo. Espiritualidade: um caminho de transformação. Vozes, 2013.

CHAVES, José Reis. A reencarnação segundo a Bíblia e a ciência. Editora Martin Claret, 2010.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB, 1857.

KARDEC, Allan. A Gênese. FEB, 1868.

LÉVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito: ensaio sobre a exterioridade. Martins Fontes, 1974.

SILVA, Severino Celestino da. Analisando as traduções bíblicas. Idéia, 2001.

WHITE, Ellen G. O Desejado de Todas as Nações. Casa Publicadora Brasileira, 1898.

WHITE, Ellen G. O Grande Conflito. Casa Publicadora Brasileira, 1884.


O Caldeirão da Fé: Novas Configurações Religiosas e a Ascensão da Secularização no Brasil Contemporâneo

 


O Caldeirão da Fé: Novas Configurações Religiosas e a Ascensão da Secularização no Brasil Contemporâneo



Resumo: Este artigo científico revisita o cenário religioso brasileiro, analisando as dinâmicas dos novos movimentos religiosos, a pluralização das espiritualidades e a crescente secularização. Através de uma abordagem atualizada, que incorpora as contribuições de pesquisadores brasileiros contemporâneos, busca-se compreender as transformações e os desafios que moldam o campo religioso no Brasil.

Introdução:

O Brasil, com sua rica história de diversidade religiosa, continua a ser um campo fértil para a emergência de novas formas de religiosidade. Este artigo se propõe a atualizar a análise do cenário religioso brasileiro, incorporando as pesquisas mais recentes sobre novos movimentos religiosos, espiritualidades alternativas e o fenômeno da secularização.

Novos Movimentos Religiosos e a Pluralização das Espiritualidades:

O cenário religioso brasileiro contemporâneo é marcado pela proliferação de novos movimentos religiosos, que se caracterizam pela flexibilidade doutrinária, pela ênfase na experiência individual e pela hibridização de elementos de diferentes tradições religiosas.

Além disso, observa-se a expansão das espiritualidades alternativas, que se distinguem pela busca individualizada por sentido e transcendência, desvinculada das instituições religiosas tradicionais. Essas espiritualidades, que incorporam práticas como meditação, yoga e terapias holísticas, refletem a crescente valorização do bem-estar e da autonomia individual.

A Ascensão da Secularização:

Paralelamente à pluralização das formas de religiosidade, o Brasil tem testemunhado um aumento significativo no número de pessoas que se declaram sem religião. Esse fenômeno, que se manifesta no crescimento do ateísmo, do agnosticismo e do secularismo, desafia as concepções tradicionais de religião e demanda uma análise cuidadosa de suas causas e consequências.

A Ascensão da Irreligião:

Paralelamente ao surgimento de novas formas de religiosidade, o Brasil tem testemunhado um aumento significativo no número de pessoas que se declaram sem religião. Segundo o Censo 2010 do IBGE, cerca de 8% da população brasileira se declarava sem religião, um número que tem crescido nos últimos anos.

Esse fenômeno pode ser atribuído a diversos fatores, como o aumento da secularização, a crítica às instituições religiosas tradicionais, a valorização da ciência e da razão, e a busca por autonomia individual.

Contribuições de Pesquisadores Brasileiros Contemporâneos:

Pesquisadores brasileiros contemporâneos têm contribuído significativamente para a compreensão do cenário religioso brasileiro.

Desafios e Perspectivas:

O cenário religioso brasileiro contemporâneo apresenta desafios complexos, como a intolerância religiosa, a polarização política e a necessidade de diálogo inter-religioso. No entanto, também oferece oportunidades para a construção de uma sociedade mais pluralista, inclusiva e tolerante.

Considerações Finais:

O caldeirão da fé no Brasil contemporâneo é um campo dinâmico e multifacetado, que exige uma análise crítica e uma abordagem interdisciplinar. Ao incorporar as contribuições de pesquisadores brasileiros contemporâneos, este artigo buscou atualizar a compreensão das transformações e dos desafios que moldam o cenário religioso brasileiro.

5 Atividades Pedagógicas para Explorar a Diversidade Religiosa e a Secularização no Ensino Fundamental:

1. "Mapa da Fé": Descobrindo a Diversidade Religiosa na Comunidade

2. "Roda de Conversa: Histórias de Fé e de Dúvida"

3. "Criação de Personagens: Explorando a Diversidade de Crenças e Valores"

4. "Debate: Religião e Ciência, Pontos de Vista Diferentes"

5. "Produção de Podcasts: Compartilhando Histórias de Fé e Secularização"

Referências Bibliográficas: